domingo, 1 de fevereiro de 2015

Machu Picchu-historia do descobrimento

 
Hiram Bingham é considerado o descobridor de Machu Picchu. Mas na verdade o local já era conhecido por muitos.
Hiram Bingham, considerado o descobridor de Machu Picchu, foto de 1917.




Primórdios-primeiros exploradores de Machu Picchu  

Antonio Raimondi
Quem poderia ter a glória de ter descoberto Machu Pichu foi o explorador e geógrafo italiano Antonio Raimondi. Ele explorou o Vale de Urubamba entre 1850 e 1860, e provavelmente teria chegado muito perto de Machu Pichu. 
A primeira referencia cartográfica de Machu Picchu é de 1874. Um mapa elaborado por um engenheiro alemão, Herman Gohring, menciona uma localidade chamada “Macchu Picchu”. A localização é exata, mas Gohring errou (no mapa) a localização da montanha Huaina Picchu, colocando-a ao sul de Macchu Picchu. O engenheiro estava no Peru a serviço do governo peruano e teria feito uma expedição pelo Vale do Urubamba, a pé. Elaborou nesta expedição um mapa, citando Machu Pichu, num relatório feito ao governo peruano, porem neste relatório não mencionou que teria visitado o local, nem da existencia de ruinas. 



Detalhe do mapa de Heman Gohing, de 1874, indicando Machu Picchu, porem errando na localização do monte Huaina Picchu.

Finalmente em 1880 o explorador frances Charles Wiener menciona a existência de ruinas em Machu Picchu, embora não tenha visitado o local.

Outros "descobridores"

Um historiador, Paolo Greer, está a frente de uma investigação, ainda em curso, sobre um engenheiro alemão chamado Augusto Berns  que entre 1867 a 1881 manteve próximo a Machu Picchu uma madeireira. Vendia madeira para a empresa da estrada de ferro. Berns descobriu e descreveu “uma cidade de construções rústicas e estruturas subterraneas que tinham sido fechadas com pedras” e pediu ao Governo Peruano permissão para “retirar dali objetos de grande valor, parte do tesouro dos Incas”. Sem duvida, tratava-se de Machu Picchu. De acordo com Greer, entre 1867 e 1870, com aprovação do governo peruano de Jose Balta, Berns teria saqueado Machu Picchu, vendendo a colecionadores europeus e norte-americanos tudo o que dali retirou. O presidente Balta ficava com 10% dos valores das vendas.

Berns elaborou o mapa acima, dando localização de sua madeireira (“sawmill”), onde hoje é o povoado de Aguas Calientes. Indica ainda “point huaca inca”, Machu Picchu.Em amarelo, lê-se “Este lado é inacessível”



Entretanto, deve-se considerar que até ao inicio do século XX era considerado normal explorar locais históricos perdidos, retirar objetos dali e vender a quem quiser. Não era considerada como atividade desonesta, ilegal. Por isso, os ingleses fizeram um “rapa” nos sitios arqueológicos do Egito.
Outro que afirma ter chegado Machu Picchu foi um missionário Batista ingles chamado Thomas Payne, que viveu no Peru entre 1903 até 1952. Ele teria visitado o local em 1905 e prestado auxílio a Bingham na expedição de 1911. Teria emprestado a Bingham equipamentos para a expedição. O problema é que Bingham nunca mencionou Payne em seus relatórios. 
Missionário Thomas Payne

Em 1910 o ingles Sir Clements Markham publicou em Londres o livro “The Incas of Peru”, e em suas paginas há um mapa citando Machu Picchu. Markham era geógrafo, explorador, escritor e secretário da Royal Geographical Society . Esteve no peru em 1853, e nesta ocasião conheceu uma planta chamada cinchona e suas propriedades medicinais para cura da malária (a planta produz quinino). Retornou ao Peru em 1859 com a missão de colher mudas e sementes da planta e leva-las para India, Myanmar e Sri Lanka, na época sob domínio inglês. Obteve sucesso nesta empreitada, pois a cinchona vingou na India.
Mapa de Sir Clements Markham, publicado em 1910, um ano antes de Hiram Bingham chegar a Machu Picchu.



Hiram Bingham - Redescobrimento de Machu Picchu


Hiram Bingham é considerado o descobridor de Machu Pichu. Porem ele próprio tinha conhecimento das informações de Charles Wiener e Herman Gohing. Portanto, já existiam indicações sobre a existencia da cidade, porem ninguem ainda tinha de fato explorado Machu Picchu com a devida atenção que o local merecia.

Hiram Bingham, 1911.

Hiram Bingham era professor de História na Universidade de Yale, especializado em História dos países latinos das Américas.
Em 1909 Bingham participou do Primeiro Congresso Cientifico Pan Americano em Santiago, Chile. Na volta aos Estados Unidos, fez uma conexão no Peru, e nessa ocasião um peruano convenceu-o a visitar a cidade inca de Coquequirao. Pertencendo ao meio acadêmico, visitou a Universidade de Cusco. Fez amizade com o reitor, Albert Giesecke
Dois anos depois em 1911 retornou a Cusco. Reencontrou-se com Giesecke e este informou que dois trabalhadores rurais, Brauda Palo y Broda e Melchor Arteaga haviam afirmado a existencia de uma cidade perdida no alto dos Andes. Bingham também encontrou-se com um cusqueno, trabalhador rural, Alberto Duque. Este também mencionou a existencia das ruinas. . Acertadamente, Bingham supos que essas ruinas seriam a intocável cidade de Machu Pichu, mencionada anteriormente por Wiener e Gohing, informações que Bingham tinha já conhecimento.
Bingham procurou e encontrou Melchor Arteaga, numa fazenda proximo a Machu Pichu. Ofereceu o equivalente a 1 dólar para que este o guiasse até ao local das ruinas. Arteaga levou Bingham até as ruinas, e ali se despediu –se de Bingham, voltando sozinho. Estava “descoberto” oficialmente Machu Pichu. Tinha juntado-se à expedição um menino, Pablito Richarte, e que morava entre a fazenda de Arteaga e Machu Pichu. Este menino ficou com a tarefa de guiar a expedição no caminha de volta.
Um expedicionário e Pablito Richarte, o menino que 
guiou Hiram



Bingham retornou várias vezes a Machu Picchu, em expedições bem organizadas. Teria ele retirado dali cerca de 40 mil objetos (cerâmicas, múmias, ossos, etc) e enviado para a Universidade de Yale. Em 2007 foi firmado um acordo entre a Universidade e o governo Peruano, para a devolução das peças ao Peru. 

O agricultor que visitou Machu Picchu

Ao chegar em Machu Pichu, o guia Arteaga mostrou a Bingham uma inscrição numa pedra, “Lizarraga, 14 de julho de 1902”. Explicou então que tratava-se do agricultor Augustin Lizarraga, que morava por perto e estivera ali em 1902. Bingham teria apagado a inscrição, para ficar com os louros da descoberta.
Lizarraga planejou um retorno a Machu Pichu. Porem no caminho deparou com o rio Urubamba muito cheio, pois era época de chuva. Decidiu atravessá-lo assim mesmo, mas foi levado pela correnteza e morreu afogado.
Talvez moído pelo remorso, Bingham resolveu mencionar a inscrição (“Lizarraga, 14 de julho de 1902”) em um caderno de anotações, confirmando a veridicidade da história.
A família Lizarraga está até hoje reivindicando o descobrimento a Augustin. Entretanto, pelo critério adotado pela familia Lizagarra, teria sido Augusto Berns o primeiro a pisar em Machu Picchu.
Porem descobridor, por definição, é aquele que anuncia e descreve a descoberta ao mundo, coisa que Berns e  Lizarraga não fizeram.
Augustin Lizarraga

Hiram Bingham é considerado o descobridor de Machu Picchu...

Os peruanos creditam a Bingham a “descoberta científica” do local, pois foi ele o primeiro a organizar expedições bem equipadas, a limpar o local, fotografar, descrever, estudar, analisar, etc. Bingham organizou, após a visita de 1911 tres bem organizadas e equipadas expedições ao local, em 1912, 1914 e 1915. Coube a Bingham fotografar e ceder reportagem a revista National Geographic, que divulgou ao mundo todo a existencia de Machu Pichu. E mais imporante, Bingham não retirou dali objetos para revender, e sim para guarda-los na Universidade de Yale. 


Expedição de Hiram, 1912


Lizarraga, Payne e Berns foram apenas pessoas que foram até Machu Picchu antes de Bingham
Berns esteve lá apenas para saquear o local, Lizarraga e o missionário Payne, estiveram lá por pura curiosidade.
O próprio Bingham nunca afirmou que fora o primeiro a pisar em Machu Pichu, sempre disse polidamente que “foram os nativos peruanos os primeiros a chegarem lá”.


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